Era uma vez um homem
Que era até de se admirar
Embora só pudesse dizer o que ele era ontem,
Pois no dia seguinte voltava a mudar
Uma hora era santo,
Outra hora voltava a pecar
Um dia entrava em pranto,
Outro passava o dia a se alegrar
Era uma vez um homem
Que era até de se admirar
Sabia o que queria hoje
Mas amanhã voltava a se enganar
Então, um dia, disseram ao homem o que teria que fazer,
para não ficar por ai mudando toda hora sem o porquê
Deram-lhe uma corrente que prendiam os pés e disseram:
Agora estás livre!
B.C.
O que era ontem
Soneto de adoração
Surge nos parques abundante
Brisa leve que em tua aura ecoa
Onde o verde, ante teu semblante
Cala, ajoelha e te rebaixa a lousa
És tu quem reina neste paraíso
A ti se rendem as flores mais belas
Cantando, tentam os pássaros arrancar-te o riso
Dançando, o bosque inteiro tem em ti sua meta
E se o sol esconde-se no horizonte
Tu como astro impera
E a lua some, atrás das nuvens, por inveja.
És a beleza de todas em uma só
És afrodite
És o que Deus fez de mais belo do pó.
(D.B e B.C. )
Retrovisor
Sigo a estrada na quinta marcha
Já faz tanto tempo que nem sei quando começou esta jornada
Cabelos ao vento e nenhuma curva a vista
Os olhos cansados de olhar a pista
Vejo diversas entradas
Onde será que elas vão levar?
Ao mesmo destino que me leva essas passadas?
Meu espírito aventureiro começa a se perguntar
Mas essa estrada é um tapete
Teria motivo para desviar desse caminho promissor?
Mas insisto por um tempo a olhar no retrovisor
E as horas passam como um foguete
Olho, mais uma vez, para o retrovisor
Parece que ainda vejo, lá atrás, a hora que estava feliz a dirigir
Olho para frente e nada parece animador
Na esperança de chegar ao destino, sigo a insistir
Se tomar outro caminho talvez possa me arrepender
A estrada é perfeita para andar
Então volta a escurecer
E eu olhando para o retrovisor já querendo voltar
O sol começa a aparecer no horizonte
E aquele espelho a minha fronte
Parece mostrar o motivo da minha dor
Começo a perceber que não se chega a lugar algum,
olhando somente para o retrovisor
B.C.
Poesia nova, verso velho
O gosto da tua boca tem sabor de passado
Mas se o presente não me chega sorrindo
Tento ter aquilo que já foi enterrado
Não me venha com velhos versos
Pois a poesia já se fez nova
B.C.
Menina perdida
Menina perdida, tu queres colo?
Como te perdeste, se nunca te encontraste?!
No teu fardo pesado pensava que carregava o dobro do teu próprio peso?
Perdeste-te na vida quando?
Se nunca foste orientada ao caminho certo
A estrada dos tijolos amarelos teus olhos nunca contemplaram
Nunca conheceste uma vida sem pesos
Seja nas costas, seja dentro da tua própria cabeça
Na tristeza tentava prolongar tua vida
E nas felicidades ficava sempre esperando a hora de terminar
Para no fim da tarde, olhares no espelho e chorar tua vida ruim
Menina perdida, tu queres colo?
E quando acha, acredita não merecer.
E quando perde, preferia até morrer?!
Porque ninguém pode ser tão triste como uma menina perdida
Por um vão momento encontra o que procura
mas logo teu pensamento muda.
E dizes que está sozinha, de modo que ninguém pode ter mais solidão que uma menina perdida]
Pobre de ti!
Olha ao lado e não vez que muitos carregam dez vezes o teu fardo?
Mas ninguém é mais triste!
Pobre menina ninguém!
Menina perdida, acha logo teu caminho antes que a vida passe
E no fim da tarde ao veres teu rosto cheio de rugas no espelho
descubra tardiamente que nunca te perdeste
Apenas deixaste de olhar pro lado
e ver que a felicidade sempre caminhou contigo.]
B.C